sexta-feira, 13 de abril de 2007

, lita e as coisas

"as coisas simplesmente são". escutava lita, enquanto voltava da escola naquela tarde-dúvida de quinta-feira. o que significava aquela frase? depois de tentar entendê-la atravessando a velha ponte de madeira, preferiu cantarolar uma música qualquer ao mesmo tempo em que catava jasmins no chão.
- gente grande diz cada coisa, nando! (e aquele velho biquinho que fazia enquanto resmungava).
, chegava em casa sempre faminta, e como devorava maçãs antes do almoço! sua mãe ficava louca, tentando convencê-la que maçãs são melhores à noite
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depois do quase-almoço, debruçava-se na janela e retirava os jasmins do bolso, espalhando-os pelo quarto, até que tudo ganhasse aquele cheiro: roupas, bichinhos de pelúcia, seus rabiscos.
- lita, lá vem você com essas flores que sujam tudo, venha cá experimentar seu vestido, já está quase pronto! (estamos na véspera de seus seis anos, a mãe lhe fizera um vestido azul, que a menina tinha que provar todo santo dia, até que lhe caísse como uma luva).
, depois de tudo feito, vestido, bolo, salgadinhos, bolas coloridas por todo o salão, todos os parentes, até um palhaço, sim, o pai se divertia mais do que as crianças presentes na festa, depois de tudo isso, em meio às canções infantis, lita ficou tonta.
- "as coisas simplesmente são: chatas"!! sim, com exclamações no início da frase, porque era tudo chato à sua volta, pensava ela. lita encontrava nas coisas mais absurdas a graça, e todo o resto era mera distração disfarçada nas chatices. balão, brigadeiro, parabéns, presentes, os primos que vinham do interior nos aniversários.
, agora tinha seis anos, o cabelo cresceu um pouco, os dedos cresceram um pouco, mas o meio-sorriso era o mesmo. sentiu sono, tédio, vontade de estar em casa rabiscando árvores no bloco com folhas lilás que ganhou de presente da avó paterna, a qual não via desde seus três anos, que pra tentar compensar a ausência, enchia-lhe de presentinhos quase todo mês.
- aquilo sim, foi uma boa lembrança! de que me adianta brinquedos mudos? (as pessoas insistiam nesse tipo de "lembrança", mas a menina preferia sempre as coisas que de alguma maneira lhe falavam, coisas que se deixavam criar., coisas que a faziam ser).
, então começou com seu velho dengo e pedir aos pais que a levassem dali, dengo ela sabia bem como fazer!
foi assim que voltou pra casa, com seus seis anos e a certeza infantil de que as coisas "simplesmente precisam ser".

3 comentários:

madá disse...

'maçãs limpam os dentes'

Lucas Simões disse...

Ironicamente maçãs me tiram o sono a noite. :P

madá disse...

belo horizonte.